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Curso de Redação: Descrever, Narrar, Dissertar

Tipologia Textual




Tudo o que escreve é redação. Elaboramos bilhetes, cartas, telegramas, e-mails, respostas de questões discursivas, contos, crônicas, descrições, narrações, dissertações, enfim, várias modalidades de redação.



Seja qual for a modalidade redacional, a criação de um texto envolve conteúdo (nível de ideias, mensagem, assunto), estrutura (organização das ideias, distribuição adequada em função da introdução, desenvolvimento e conclusão) e gramática (norma da língua).




Geralmente as modalidades redacionais aparecem combinadas entre si.



Na narração, encontramos traços descritivos que caracterizam cenários, personagens ou outros elementos da história. Por exemplo:



Caminharam pela estrada poeirenta até chegar a Jardinópolis, onde a família os recebeu.


A descrição pode iniciar-se com um pequeno parágrafo narrativo para precisar a localização espacial. Por exemplo:



Indo à praia, Luis muniu-se dos apetrechos necessários para pescar. Chegando lá, o céu estava nublado, o vento forte, as palmeiras agitadas e o mar espumante (sendo a redação predominantemente descritiva, a caracterização de elementos prossegue ao longo do texto).




A dissertação pode apresentar tese ou breves trechos argumentativos de natureza descritiva ou narrativa, desde que sejam exemplificativos para o assunto abordado. Por exemplo:



No século XIX, os mineiros norte-americanos passaram a usar calças de brim cuja cor azul índigo desbotava no atrito com as rochas.Estava lançada a calça jeans que, nos anos sessenta, haveria de tornar-se signo da rebeldia e da contra-cultura.




A narração é marcada pela temporalidade; a descrição, pela espacialidade; e a dissertação, pela racionalidade.



O redator que narra, trabalha com fatos; o que descreve, com características; e o que disserta, com juízos.




O narrador conta fatos que ocorrem no tempo, recordando, imaginando ou vendo... O descrevedor caracteriza entes localizados no espaço. Para isso, basta sentir e preceber, principalmente ver. O dissertador expõe juízos estruturados racionalmente.




A trama narrativa apreende a ocorrência na sua dinâmica temporal. O processo descritivo suspende o tempo e capta o ente na sua espacialidade atemporal. A estrutura dissertativa articula ideias, relaciona juízos, monta raciocínios e engendra teses.




O texto narrativo é caracterizado pelos verbos nocionais (ações, fenômenos e movimento); o descritivo, pelos verbos relacionais (estados, qualidades e condições) ou pela ausência de verbos; o dissertativo, indiferentemente, pelos verbos nocionais e/ou relacionais.




Narra-se o que tem história, o que é factual, o que acontece no tempo; afinal, o narrador só conta o que viu acontecer, o que lhe contaram como tendo ancontecido ou aquilo que ele próprio criou para acontecer.




Descreve-se o que tem sensorialidade e, principalmente, perceptibilidade; afinal o descrevedor é um percebedor, ou melhor, um discriminador de sensações. Assim, descreve-se o que se vê ou imagina ver, o que se ouve ou imagina ouvir, o que se pega ou imagina pegar, o que se prova gustativamente ou imagina provar, o que se cheira ou imagina cheirar. Em outras palavras, descreve-se o que tem linhas, forma, volume, cor, tamanho, espessura, consistência, cheiro, gosto etc. Sentimentos e sensações também podem ser caracterízados pela descrição (ex.: paixão abrasadora, raiva surda).




Disserta-se sobre o que pode ser discutido; o dissertador trabalha com ideias, para montar juízos e raciocínios.



Descrever


A descrição procura apresentar, com palavras, a imagem de seres animados ou inanimados captados através do cinco sentidos. A Caracterização desses entes obedece a uma delimitação espacial.




“O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e



boêmia. Fazia má impressão estar ali: o vômito de Amâncio



secava-se no chão, azedando o ambiente; a louça, que servia


ao último jantar, ainda coberta de gordura coalhada, aparecia



dentro de uma lata abominável, cheia de contusões e roída de



ferrugem. Uma banquinha, encostada à parede, dizia com seu



frio aspecto desarranjado que alguém estivera aí a trabalhar



durante a noite, até que se extinguira a vela, cujas últimas



gotas de estearina se derramavam melanconicamente pelas



bordas de um frasco vazio de xarope Larose, que lhe fizera



as vezes de castiçal.” (Aluísio Azevedo)





Narrar


A narração constitui uma sequência temporal de ações desencadeadas por personagens envoltar numa trama que culmina num clímax a se esclarecer no desfecho.




“Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro, que ela explicou por estas palavras alegres:



- Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças!
- Que tem? Acudiu a mãe, transbordando de benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear.
- O quê, mamãe? Isto? Redarguiu Capitu, desfazendo as tranças. Ora, mamãe!


E com um enfadamento gracioso e voluntário que às vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-lhe que não fizesse caso, não era nada, maluquices da filha.



Olhava com ternura para mom e para ela. Depois, parece-me que desconfiou.
Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que lhouvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por dissimulação...”

(Machado de Assis)


Dissertar


A dissertação consiste na exposição lógica de ideias discutidas com criticidade através de argumentos bem fundamentados.




“Hoje, os meios de comunicação de massa, codificando a realidade de um modo diferente contribuíram para exploração que dá à comunicação mais consoante com integridade da natureza humana. A lingugem oral, e particularmente a escrita, chegaram a descarnar o homem ao separar a realidade de sua representação simbólica. A palavra chegou a ser um instrumento neutro, alheio ao processo criador do homem.

A percepção visual e sonora são operações fundamentais ao ato de conhecer. A compreensão não vem depois da audição ou da visão, é imagem à percepção. A linguagem total reintroduz o homem num universo de percepções porque é, antes de mais nada e primordialmente, uma experiência pessoal, global, onde a percepção opera integrando os diversos sentidos.”

(Franciso Gutierrez)


Resumindo

A descrição caracteriza seres num determinado espaço – fotografia

A narração sequencia ações num determinado tempo – história

A dissertação expõe, questiona e avalia juízos - discussão